segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Conversas da Távola, parte 3


“O teatro realizado com seriedade e ética sempre levará à transformação social”, argumenta Stanislavski. “Então o senhor aponta para um teatro épico, Sr. Brecht?”

“Narrativo. Um fórum de discussões das complicadas relações humanas dentro do sistema capitalista.”

“O ator cria o personagem como extensão de sua própria personalidade”, diz, inserindo-se na conversa, o diretor polonês Jerzy Grotowski, com a inscrição Encenador (1933- 1999).
“Em meu teatro-laboratório, trabalhava com um pequeno grupo de atores em tempo integral e exigia deles absoluta concentração na pesquisa. Penso o ator como possibilidade de tensão levada ao extremo. O ator deve pensar com o corpo.”

“Como?”, perguntam os Srs. Stanislavski, Meyerhold, Gordon Craig e Brecht.

“Através do trabalho corporal.”

“Biomecânica”, diz Meyerhold.

“Então”, continua Grotowski, “através do trabalho corporal e de sua exaustão, que leva ao transe, o ator transcende suas possibilidades psíquicas e físicas, atingindo um ponto em que desaprende para atingir o ato criador. No despojamento físico e psíquico, o ator elimina suas resistências até atingir um impulso puro. Uma autopenetração que revela e sacrifica o mais íntimo de si mesmo.”

“A dança!”, grita o homem primitivo.

Todos os doze cavalheiros sorriem, com carinho, para o homem primitivo.

“Percorrido o processo de pesquisa física e psíquica, encontraremos o teatro pobre: sem cenários, materiais cênicos, efeitos técnicos, iluminação, maquiagem, ou seja, o teatro em sua essência, contando com o corpo e seu espaço, apto ao som, ritmo e movimento. Este teatro deve ser voltado a um público específico, qualitativo e não quantitativo. Um grupo pequeno para que haja uma integração em forma de culto”, finaliza o Sr. Grotowski.

“Santificação!”, clama o homem primitivo.

“Levei às últimas consequências as ações físicas elaboradas por você, Stan.”

“No meu livro póstumo ‘A composição do personagem’, há o cuidado de sistematizar o treinamento técnico exterior do comediante através de recursos físicos ligados ao trabalho vocal e corporal. Também em ‘A criação de um papel’, tive a oportunidade de aplicar meu método em comédia, drama e tragédia”, diz Stanislavski.

“Sim, e quantos não disseram que o seu método só se aplicaria ao teatro sério?... O conhecimento é tudo”, diz Brecht.

“O ator deve seguir ao abandono das forças instintivas para ampliar os limites da realidade”, reflete em voz alta o francês Antonin Artaud, com a inscrição Ator, encenador, poeta, dramaturgo (1896-1948). “O espetáculo deve salvar o homem. O ator como um atleta afetivo, através do sopro e da respiração, penetra o corpo do personagem, dando-lhe vida. O ator não deve temer o ridículo de assumir gestos patéticos, o grito é seu veículo mais expressivo. Através de sons inabituais e inumanos, nos aproximamos de estados emocionais elementares.” E, olhando para o homem primitivo à mesa, continua: “Na retomada do homem primitivo chego à essência teatral.”

“Teatro da Crueldade”, dizem juntos o inglês Peter Brook, Diretor de teatro e cinema (1925-), e o italiano Eugenio Barba, Diretor de teatro (1936-), ambos influenciados pela teoria de Artaud. A eles junta-se o americano Joseph Chaikin, Encenador e dramaturgo (1935-2003).
“O teatro é um encontro entre o ator e o espectador, assim como a transformação instantânea de um personagem noutro”, diz Chaikin.

“Aproveito os exercícios da biomecânica, mesmo os mais perigosos. O importante não é a execução do trabalho físico, mas as motivações e os impulsos que levam o corpo a reagir de determinada forma. Gritos e descontrole físicos não são criativos, pois não surgem da disciplina de pesquisa”, argumenta Eugenio Barba. Olhando para o Sr. Grotowski, acrescenta: “Admiro e utilizo a ideia do teatro pobre.”

“Gosto de suas ideias, Artaud!”, diz Peter Brook.

E continua Peter Brook: “Busco em minha pesquisa uma linguagem de sons e gritos que alcancem uma palavra-grito de impacto integrada ao movimento corporal.” Enquanto fala, olha para Artaud. “Você, Artaud, influenciou-me fortemente na utilização de cores expressivas em seus exercícios e espetáculos. Com isso, com elementos de violência e crueldade, busquei estabelecer novas relações entre ator-autor e público. Sempre busquei reformular os moldes verbais de meus atores, como, por exemplo, em inúmeras encenações shakespearianas, e em uma criação coletiva sobre a Guerra do Vietnã.”

“Ah, estudei e experimentei muito de vocês, Stan e Brecht”, finaliza Brook.

“Huumm, o ator pode ser um não-ator: um estudante, um operário, qualquer pessoa que queira desentorpecer o corpo alienado pelo cotidiano de uma sociedade capitalista. O ato de se ver em ação ou de interpretar o outro é próprio do ser humano. Através do sistema coringa, o ator mescla vários personagens, ora trabalhando a empatia stanislavskiana, ora quebrando a continuidade da ação, como no seu teatro épico, Brecht.”

Brecht olha para seu novo interlocutor, interessado.

“O Teatro do Oprimido chama o espectador à atividade cênica, tornando-o protagonista de um teatro que deve ser interpretado socialmente. Um teatro dialético. O ator retorna às origens quando torna seu espetáculo um ritual, onde o espectador-ator comunga com ele, o mesmo processo. Todos os seres humanos são atores, mas alguns profissionalizam-se”, diz o brasileiro Augusto Boal, inscrição Encenador, dramaturgo e ensaísta (1931-2009).

Enquanto a conversa na távola chega ao fim, o homem primitivo, travestido de xamã, dança mascarado ao redor da mesa.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Conversas da Távola, parte 2



“Concordo com Meyerhold”, diz o inglês Edward Gordon Craig, com a inscrição Diretor e cenógrafo (1872-1967) na camisa preta que veste. “A emoção destrói o ator, a identificação gera confusão e erro. Proponho o ator como uma super-marionete, que através do movimento domina a emoção, tornando-se mais visual e menos sonoro, pois acredito ser a voz muito enfadonha.” E, olhando para o homem primitivo, diz-lhe sorrindo: “Uma marionete, símbolo da divindade.”

“Acho que o ator não deve se apoiar no transe hipnótico do naturalismo psicológico; o ator deve direcionar-se pelo que é cerebral e litúrgico. O público não deve ser envolvido emocionalmente”, argumenta o alemão Bertolt Brecht, com a inscrição Dramaturgo, poeta e encenador (1898-1956), também vestido de preto.

“Sim, com certeza! A plateia não deve ser envolvida emocionalmente!”, exclamam, com certa ansiedade, os Srs. Meyerhold e Gordon Craig.

“Continuando: proponho uma representação mais consciente do ator através do gestus, levando o público a entender a situação cênica de modo mais racional.”

“Como?”, perguntam os três senhores, Stanislavski, Meyerhold e Gordon Craig.

“Na encenação teatral, deverá ocorrer uma demonstração dos acontecimentos através do ator narrando e relatando os fatos, entre uma linguagem falada e cantada. Já a leitura cênica do personagem e da história deverá ser realizada com espanto e crítica pelo ator, antes de memorizar a história, podendo avaliar o desenrolar dos fatos.”

“Posso continuar?”, pergunta Brecht. Todos à mesa, os doze cavalheiros mais o homem primitivo, respondem que sim.

“O ator deve desenvolver uma interpretação expositiva, lúcida e didática, relatando ideias e opções de comportamento mais do que sentimentos. Um efeito de distanciamento, a partir do ator que deverá estudar seu personagem de forma mais científica, gerando no público um estranhamento para que o acompanhe, sem envolvimento emocional, mas de forma crítica: social e artística. O distanciamento no público só poderá ocorrer através do distanciamento responsável do ator por meio da observação de si próprio e reprodução de atitudes cênicas recorrendo a símbolos. Um ator com função de agente de transformação social e histórica.”

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Conversas da Távola, parte 1


Sentados ao redor de uma távola redonda, dez respeitáveis homens de teatro conversam sobre o ofício ao qual dedicaram suas vidas. Além deles, ali está também o homem primitivo. A távola redonda encontra-se em um espaço dito cênico, em uma cidade localizada no espaço e no tempo da cronologia histórica, onde vivos e mortos têm a oportunidade de encontrar-se para um “bate-papo”.
A mesa não possui cabeceira. Portanto, os dez homens de teatro, mais o homem primitivo, conversam em uma perspectiva em que todos têm visão para todos.


O primeiro homem a falar, um russo chamado Constantin Stanislavski, tem a inscrição Ator, encenador e teórico teatral (1863-1938) estampada em branco na camisa preta que veste.


“A criatividade do ator deve ser estimulada por uma série de motivações técnicas que despertem conscientemente o inconsciente para uma criação superorgânica, superconsciente. Deve-se estimular o trabalho do ator sobre si mesmo e o trabalho do ator sobre o personagem.”


Um segundo homem, também russo, chamado Vsévolod Meyerhold, com a inscrição Ator, encenador e teórico teatral (1874-1942) estampada em uma camisa preta, responde-lhe: “Stan, ator é movimento. Rejeito psicologismo e realismo sociológico.”


“Mas, Meyerhold! O ator deve reconstruir minuciosamente a psicologia do personagem. O ator deverá, diariamente, exercitar-se na prática da observação de si próprio e do outro, como seres humanos que são, para como personagem colocar-se em situação d...”


O homem primitivo, nu e sem qualquer inscrição, pergunta pensativo: “Ator religioso?”


“...colocar-se em situação de a fim de alcançar uma realidade cênica mesmo que tenha de recorrer ao externo e aos meios físicos para alcançar a verdade interior do personagem. A fé cênica”, continua o Sr. Stanislavski, exaltado em sua observação.


“Ato religioso!”, pensa o homem primitivo em voz alta.


“Stan, Stan, Stan. A ação do ator deve ser mais teatral e menos humanizada. O movimento apresentado através da expressão corporal e da mímica é mais revelador do que palavras. O ator é como uma marionete que dança, canta, faz acrobacias e (nunca) esquece que está representando frente ao público.”


“Essência?”, pergunta o homem primitivo. Meyerhold lhe sorri, enquanto olha para Stanislavski com ar vitorioso.


“Destruir a quarta parede que há entre o ator e o público?”, pergunta Stanislavski. “E a concentração do ator em cena? Uma vez vi o ator italiano Tommaso Salvini interpretando ‘Otelo’, de William Shakespeare, o que marcou-me profundamente. Ouvi dele, certa vez, que o ator deve trabalhar uma total desconcentração muscular nos ensaios e antes de entrar em cena; e uma concentração da atenção quando estiver no palco e nos ensaios. Desconcentração muscular e concentração mental.”

domingo, 7 de junho de 2009

De taturanas pretas, vermelhas e verdes... ou Como Sofia descobriu o teatro, parte 6

Duvidais sempre? perguntou Sofia.
E como se a pergunta que acabava de fazer fosse uma senha, retornaram as três, Sofia e as taturanas, ao local de origem.
Já era noite na chácara. Após o retorno, as duas taturanas olharam fixamente para a gatinha.
O olhar das duas lagartas transmitia ao mesmo tempo felicidade e medo. O exterior delas modificava, acrescentando às suas silhuetas um par de asas para cada uma. Antes mesmo que conseguissem despedir-se de Sofia, saíram voando como duas borboletas; na verdade, duas mariposas, uma marrom e outra amarela.

Sofia continuava ali, observando o voo das mariposas.

Fim

Pintura: Monet

segunda-feira, 1 de junho de 2009

De taturanas pretas, vermelhas e verdes... ou Como Sofia descobriu o teatro, parte 5


... “Acho que o maior conflito para o ator que está iniciando no teatro é o como interpretar
dignamente uma personagem. Será identificando-se ao máximo com a personagem através do
subconsciente, podendo com isso criar um vínculo com o público? Ou distanciando-se, analisando a personagem de modo mais científico? Ou trabalhando o físico e esgotando-se a ponto de
transmutar-se inconscientemente com o que existe de mais humano, nossos modelos de pensamento e os signos à nossa volta?

Preciso estudar Constantin Stanislavski, Bertolt Brecht e, um dia, o teatro físico de Jerzy Grotowski, entre outros... Peter Brook... vou estudar a vida inteira. Gosto muito disso.”
Sofia, o teatro não se realiza sem a presença física do ator. Enquanto não é encenado para
um público, não existe como tal; refletiu a taturana mais tímida.


“Teatro é ação”; refletia o pensamento sobre si mesmo de Priscilla.


“Existem muitos modos de produção em teatro. Profissional, amador, experimental,
tradicional, comercial, teatro para o povo ou um público elitista, teatro infantil e adulto. Participei
de algumas montagens de final de curso e já ensaiei em dois grupos amadores de teatro. Uma vez, um professor atentou-me à importância dos ensaios. É repetindo, experimentando, errando que nos aproximamos do tema da peça e da personagem, questionando as ações humanas.”


“Existem muitos fazeres teatrais e muitos públicos. Na praça Roosevelt, em São Paulo, o
público é formado por muitos atores, é praticamente uma metalinguagem de si mesmo. Em teatros de shopping, o público geralmente procura entretenimento. Existem os Teatros Municipais, o teatro do Centro de Convivência; teatros universitários, teatros de pesquisa.”
“Desconfio que o melhor crítico de uma peça é o público. O teatro é realizado para o grande
personagem principal: o espectador. Transforma atores, encenadores e público através da reflexão do ser humano como ser social.”


“Cabe ao encenador o questionamento e ao ator a realização da reflexão proposta. A
investigação, o repertório adquirido durante a vida e o estudo serão sempre o melhor caminho para o ator não se perder na vaidade, ingenuidade e seguimento cego de encenadores ou propostas vazias.


Duvidais sempre?”

terça-feira, 19 de maio de 2009

De taturanas pretas, vermelhas e verdes... ou Como Sofia descobriu o teatro, parte 4

... “A primeira vez que participei de uma peça de teatro foi em um bosque na Unicamp. Era um
teatro de máscaras, tivemos que confeccionar e criar os personagens a partir das mesmas. Interpretei um ser da floresta, o rato Uin. Que prazer! Alguns anos depois, participando de uma pequena montagem para um festival de teatro, no ensaio de uma cena de “Álbum de Família”, de Nelson Rodrigues, percebi o jogo entre mim e meu parceiro de cena, o momento em que cada um comandava. Dessa vez, o prazer converteu-se em paixão, foi uma sensação semelhante à do
primeiro beijo.”
Primeiro beijo, hihihihi; riu-se Sofia.

“O que é teatro? Algumas vezes, parece-me uma pergunta sem resposta definida.
Etimologicamente vem do verbo grego “theastai” (ver, contemplar, olhar). O teatro faz-se com o
ator/palco, com o público/plateia e com o espaço, com a cumplicidade entre o público e os atores.
Os espaços teatrais podem ser o palco italiano, palco elisabetano (de Shakespeare), uma praça, um barco no rio Tietê, um galpão, um ônibus. Lembro-me de uma montagem a que assisti no Festival de Teatro de Curitiba de 1998; a peça iniciava-se em um ônibus com as janelas cobertas por um plástico preto, a tensão já ocorria ali na ignorância do destino para onde se era levado. O espaço compõe-se às vezes como uma extensão do corpo do ator, através de um movimento que propõe ritmos e investiga o próprio espaço.”

“Ando descobrindo que o teatro é o meio de investigação para o conhecimento do homem
como ser social, fruto de uma época e dos arquétipos que transformam-se com os seres humanos através do tempo. Às vezes parte-se de uma personagem para desnudar o coletivo. Os atores
precisam exercitar o corpo como instrumento de trabalho: respiração, voz, gestos; sensibilidade e inteligência, observação e estudo.”
Sofia, vocês gatos são uma lição de alongamento e consciência do próprio peso e movimento. Os atores devem observá-los muitas vezes; refletiu a taturana das sobrancelhas grossas.

Voltemos às lembranças de Priscilla:
“Uma vez, eu, muito atrevida, dei aula de teatro em um assentamento em Sumaré utilizando
as técnicas do Teatro do Oprimido, de Augusto Boal. Será que fui irresponsável por não ser uma
profissional de teatro? Sinceramente não sei. Dez anos depois, encontrei-me com uma amiga e,
relembrando aquele tempo, ela contou-me conhecer uma menina que se tornou enfermeira e que não esquecia um breve curso de teatro de que participou no assentamento. Lembro-me de Marta como uma garota muito inteligente que eu imaginava vir a ser atriz no futuro.
Eu, que naquele tempo sentia-me tão perdida em relação a mim mesma, ajudei alguém a se encontrar. Adoro quando Boal diz que todos somos atores, a diferença é que alguns se profissionalizam.”

segunda-feira, 11 de maio de 2009

De taturanas pretas, vermelhas e verdes... ou Como Sofia descobriu o teatro, parte 3


... Amassando com as patinhas um pequeníssimo pedaço da folha de uma planta, a taturana que
falava menos ofereceu-o a Sofia. Tome, esta é uma pílula do conhecimento.


Não liga não, ela é viciada no filme Matrix; comentou a taturana das sobrancelhas grossas.
O quê?
Depois explico. Agora o momento é do teatro.
As taturanas entreolhavam-se. E aí, vamos levá-la à Grécia Antiga?
Não, acho que não é necessário. Vamos levá-la a um lugar mais próximo... à mente da filha
de seus donos, que anda brincando com o fazer teatral; definiu a taturana das sobrancelhas.
Ah, a Cilla? Anda sumida. Será que morreu? Vocês vão comigo? perguntou Sofia.
Sofia, se nós vamos te levar para dentro da memória e dos questionamentos de Priscilla, é
porque ela está viva.
Será que vamos com Sofia? riam-se as taturanas.


Ah, vamos!! … E as três tomaram a um só tempo uma pílula cada uma.
Através de uma espécie de grande cubo mágico, Sofia e as duas taturanas viajaram até o
consciente e subconsciente de Priscilla.
“Na imitação posso ser o outro; quando eu tinha 16 anos adorava mudar de aparência, às
vezes eu usava um cabelo bem curtinho, às vezes longo, boina e botas, outras vezes vestidos:
aparência tímida, bermudas e camiseta: confiante. Uma trilha sonora embalava cada personagem que eu criava para mim mesma. É no jogo e na imitação do outro que posso revelar-me. O homem primitivo já imitava os animais que iria caçar para o melhor desempenho da caçada. No brincar com deuses e fenômenos naturais, traduz-se a transcendência humana.”


Nossa, onde estamos? indagava Sofia.
Na mente da filha da sua dona, respondeu uma das taturanas.


Ah... Eu não preciso imitar nenhum rato para caçá-lo, só preciso observar, ficar atenta e
esperar o momento certo para dar o bote; vangloriava-se Sofia.


O princípio da imitação é a observação; disse a taturana das sobrancelhas.


terça-feira, 5 de maio de 2009

De taturanas pretas, vermelhas e verdes... ou Como Sofia descobriu o teatro, parte 2

... Um dia, brincando de esconde-esconde pela chácara com seu irmãozinho Fellini, queimou se
abruptamente num momento em que estava distante do irmão.
Ai!! O que é isso?
E, olhando para baixo, encontrou duas taturanas verdes, uma das quais respondeu-lhe:
É conflito!
Conflito? indagou a gatinha.
Sim, conflito do toque, do relacionamento com o que é diferente; respondeu uma das
taturanas, muito engraçada de rosto, com grandes sobrancelhas grossas e juntas.
Por quase um minuto Sofia ficou parada olhando para elas.
Nunca tinha visto taturanas verdes, vocês são bonitas. Conheci as taturanas pretas e as
vermelhas, mas sumiram. Vocês duas costumam brincar com o quê?
Observamos; riam-se as duas.
O quê? Como? Por quê? indagou a gatinha, não obtendo resposta das duas taturanas que a
observavam.
Sofia, você anda questionando-se sobre o que deseja, sobre como jogar, sobre o porquê de
tantas perguntas?
Sim, como vocês sabem?
Riam-se as taturanas. Ai, ai, ela está com a Síndrome do Humano. Quantas questões! ria-se a
taturana de sobrancelhas grossas e mais tagarela.
É a má influência dos humanos. Gatos, cachorros, alguns papagaios, tartarugas, canários e
até iguanas andam sofrendo deste mal; condoía-se a taturana mais tímida.
O que caracteriza os humanos é saberem-se mortais; refletiu a taturana de sobrancelhas
grossas, a mais falante.
O que é mortal? perguntou Sofia.
É o que morre; respondeu a taturana de grossas sobrancelhas.
O que é morrer? perguntou novamente Sofia.
Para nós, não humanos, é quando alguém de que gostamos desaparece sem despedidas;
respondeu novamente a taturana de sobrancelhas grossas.
Ah, as minhas amigas taturanas pretas e vermelhas sumiram sem aviso.
Por segundos, as taturanas entreolharam-se. Sofia, o que você necessita agora é de uma boa
dose de conhecimento do humano, e o melhor meio é através do teatro.
Teatro?
Sim, Sofia. É a brincadeira, é o jogo, é o fingir-se.
Adoro brincar!!!

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Feliz Aniversário Thais!!!



Amo muito minha mãe e somos muito amigas.

Mas confesso que quando eu era criança imaginava que a minha tia Thais fosse a minha outra mãe, talvez pela semelhança física e de personalidade. A referência que eu, criança, tenho dela, é de uma rebeldia consciente e disponibilidade para viver a vida.
Sempre admirei muito sua facilidade de comunicação e de criar novos amigos.

Adoro quando o trio de comadres: minha mãe, eu e Thais, encontra-se na chácara: é só café, conversas e risadas até alta madrugada.

Um momento de viver a vida a ser recortado... pendurado na parede.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

De taturanas pretas, vermelhas e verdes... ou Como Sofia descobriu o teatro, parte 1


A rotina de sua vida consistia em brincar, dormir, caçar, fazer gracinhas para os donos e, nos
últimos tempos... pensar. Encontrava-se na idade de um ano e meio, o equivalente mais ou menos aos 17 anos dos humanos. Uma fase de porquês, de autodescoberta através dos amigos.
Assim encontrava-se Sofia, uma gatinha meio siamesa, meio rajada cinza claro.
No quintal da chácara onde morava, já havia se relacionado com um grupo de taturanas pretas, de uma religiosidade radical, conservadoras ao extremo; por um tempo, transmutou-se em taturanas pretas, mas acabou afastando-se, cansada de todo aquele extremismo, e também porque partiram sem se despedir.
Logo depois, Sofia aproximou-se do grupo das taturanas vermelhas, alegres, com ares de vanguarda, sempre dançando, cantando embriagadas do suco de uva que induziam Sofia a pegar “emprestado” dos donos; mas a gatinha cansou-se das taturanas vermelhas, que também partiram sem despedidas.
Na procura por conhecer-se através das relações de amizade, Sofia não conseguia criar um
vínculo que a permitisse identificar seus anseios e sua essência. E, no distanciamento das partidas, não conseguia criar uma consciência de si mesma.

sábado, 25 de abril de 2009

Reinvenção





Reinvenção, de Cecília Meireles


A vida só é possível reinventada.
Anda o sol pelas campinas e passeia a mão dourada pelas águas,

pelas folhas...

Ah! tudo bolhas

que vem de fundas piscinas de ilusionismo... — mais nada.
Mas a vida, a vida, a vida, a vida só é possível reinventada.


Vem a lua, vem, retira as algemas dos meus braços.

Projeto-me por espaços cheios da tua Figura.

Tudo mentira! Mentira da lua, na noite escura.
Não te encontro, não te alcanço...

Só — no tempo equilibrada, desprendo-me do balanço que além do tempo me leva.

Só — na treva, fico: recebida e dada.
Porque a vida, a vida, a vida, a vida só é possível reinventada.


domingo, 19 de abril de 2009

Já chorei com Tarsila


Assim como o Raul Seixas, já tive meu Baú da Cilla.
Inicialmente foi uma gaveta de armário, depois transformou-se em uma cesta de vime. Hoje é meu blog: onde reconstituo minhas memórias, simulacro minha persona e entendo meu "eu".

segunda-feira, 13 de abril de 2009

A estória de Raul Seixas Amaral - Raulzito, parte 2


Enquanto pedalava, o coração batia desgovernado, não pelo exercício físico, mas muito mais pela emoção de estar pedalando com o pai - momentos raros - rumo à casa de sua tia. O propósito da viagem era ver uma ninhada de gatinhos e quem sabe escolher um deles.

O primeiro encontro

Uma gata, Dona Mimi, deitada em forma de U, cinco ou seis gatinhos, às vezes mamando, outras vezes passando, rolando, um em cima do outro, na disputa pelo melhor leitinho. O áudio é de um ronronar. Eram... dois gatinhos pretos, dois rajados e dois siamesinhos: um cabeçudinho e forte e o outro, magrinho e fraquinho.

Quando ela, garota de 16 anos, aproximou os dedos encantados sentido aos gatinhos, o siamês cabeçudinho abraçou o irmão siamês fraquinho e bufou para ela protegendo o irmão.

A garota tímida, ameaçada por aquele bebê gato, escolheu justamente o próprio - o cabeçudinho - para levar consigo. Houve o tempo de espera: uma semana. Durante este tempo, o siamês fraquinho faleceu. E, em um sábado de 1993, o gato cabeçudinho chegava à casa da garota, sendo batizado Raul Seixas Amaral, vulgo Raulzito, também conhecido como cabeça de cebola.


Um quadro na memória - Na passagem do ano de 1993 para 1994
Feliz, ela arrumava as malas para ir passar o Ano Novo na casa dos avós em Taubaté. À noite, tudo estava pronto e era só levar as malas para o carro, mas alguém mais "esperto", antes que pudessem colocar as malas, bateu feio no carro de seu pai: por sorte não feriu ninguém, mas impediu que viajassem.

Ela ficou muito triste, de uma tristeza maior e mais profunda do que o fato da batida do carro poderia gerar. Era como se um de seus sentidos, que não a visão, não a audição, não o olfato, nem tampouco o tato, pudessem lhe trazer certa informação. Aquele seria o último Ano Novo, ano bom, ano de saúde de seu avô: aquele homem bacana que chorou quando ela nasceu, quando ela, nenê humano, recém-nascida, agarrou o seu dedo dizendo na língua dos bebês: - Oi, e aí cara!! Maneiro!!!


Em 1995 faleceu seu avô materno.


...


Pensando estar sozinha, chorando em seu quarto, ela olha para a porta e dois olhos azuis, vesgos e interrogativos a encaravam. O diálogo olho-a-olho deve ter durado uns 20 minutos, finalizando-se no colo da garota. Foi a primeira conversa longa, de amigos, que teve com Raulzito.
Hoje, 2009. Raulzito tem a mesma idade da garota tímida, 16 anos. Ao contrário de um jovem humano de 16 anos, os olhos azuis do pequeno cabeçudo estão ainda vivos de alma, porém envelhecidos de físico. A mãe da garota jura que o Sr. Cabeça de Cebola anda um pouco caduco e todos tomam muito cuidado ao pegá-lo para não machucar seus vividos ossos. Dos cinco irmãos gatos de Larama, Raulzito, o mais velho, é de longe o mais traquinas.

Em 2007 faleceu de morte natural Dona Mimi, mãe do pequeno Raul. Ao lembrar da respeitável senhora felina, a garota que hoje é uma mulher agradece àquela barriguinha peluda que criou seu amigo.

Em 1994, Raulzito, filho único, necessitava de um irmãozinho. É quando chega Lepapa...








sábado, 11 de abril de 2009

Asas do Desejo

"Quando a criança era criança perguntava, por que eu sou eu e não sou você.

A criança quando era criança perguntava, por que eu estou aqui e não ali."

Eu ainda me pergunto... Se eu tivesse nascido em outro país e tivesse tido uma outra estória eu seria eu?

segunda-feira, 30 de março de 2009

Oração à Grande Mãe


Eu sou a Deusa, eu sou a bruxa.
Eu sou aquela que ilumina e protege.
O poder da Grande Mãe está dentro de mim.
Que a Grande Mãe -a Senhora do Norte encha de frutos a árvore da minha vida.
Grande Deusa que habita dentro de mim santifica cada palavra minha e cada ato meu.

Afasta cada sombra de minha vida.
Ilumina todas as minhas estações.
Torna-me forte na dor, torna-me bela no amor.
Que teu nome e teu poder sejam o meu nome e o meu poder.
Assim sempre foi, assim sempre será.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Vapor Barato

Fui e ainda sou um vapor barato.


terça-feira, 17 de março de 2009

A estória de Raul Seixas Amaral - Raulzito, parte 1


Durante muito tempo, Larama acreditou que tivera uma violentíssima depressão aos 15 anos de idade. Apenas na maturidade, ao fazer teatro, analisou toda a sua experiência como um grande exercício cênico.
As peças do mosaico de Larama eram: coturnos; olhos e boca maquiados de preto; cabelos curtos; saia ou bermuda escuros; blusas de manga comprida sob camisetas estampadas com o rosto de Raul Seixas; ou o uniforme do colégio transmutado mais ou menos desse jeito.
A sua plasticidade era uma mistura de heavy metal e rock liquidificados com uma personagem de Tim Burton.

Quando, por algum motivo, Larama desejava mostrar-se agressiva, comprava um maço de cigarros Plaza, o qual segurava na mão como ornamento, sem nunca fumá-lo, e em seguida colocava em um dos dedos um anel de caveira, que sempre retirava para escrever.
Escrevia como respirava, expressando idéias em folhas de caderno, na bermuda rasgada, nas paredes do quarto;...

Seu esporte favorito era o exercício dos sentimentos. Nunca agrediu alguém na prática e o Amor, praticava-o platonicamente, interessando-se mais pelo sentimento do que pela correspondência do objeto amado.
Vivendo em um mundo particular, elegeu nesta época três musos inspiradores: 1. O moço que usava óculos e que trabalhava no shopping da cidade; 2. Um colega de classe e 3. Um ator de cinema que interpretara Chopin. O primeiro rendeu-lhe muitas poesias; o segundo, ao iniciar um namoro com uma outra colega de classe, proporcionou-lhe uma febre de 40 graus durante uma semana. E o ator? O ator foi personagem de muitos de seus sonhos pessoais.

Diante de tal quadro clínico, a família de Larama, em polvorosa, decidiu que era a hora da adolescente procurar um psicólogo; em seguida, a psicólog(a) definiu que era o momento de Larama, filha única, ter um bichinho de estimação, contrariando a mãe da garota que sentia arrepios ao ouvir as palavras: cachorrinho e gatinho.

Foto: Winona Ryder, filme Beetlejuice (Os Fantasmas se Divertem)


O primeiro encontro entre Larama e Raulzito (EM BREVE!!!)

quarta-feira, 11 de março de 2009

No caminho das bacantes...

Reflexões acadêmicas de uma aluna às vezes muiiiiitttttooooo indisciplinada...

Na Grécia Antiga, utilizava-se o vinho misturado à água na discussão de um tema durante os simpósios das festas e banquetes. A quantidade de água acrescida ao vinho determinava o quanto se discutiria: quanto mais diluído, maior seria o tempo dedicado a filosofar. (hheheeh vamos ao happys!!!)

Na mitologia romana, Dionísio é o equivalente de Baco, deus do vinho. Ao lembrarmos que Dionísio também é considerado o deus protetor do teatro, no qual a tragédia propicia a purga, a purificação das almas através da catarse, tende-se a supor que Dionísio (prática) conduz Apolo (teoria) ou vice-versa?; o primeiro representa a emoção, os impulsos humanos, a embriaguez mística; o segundo representa a forma, a medida e a harmonia.
Quero transpor-me como uma bacante, selvagem e endoidecida, seguidora do culto de Dionísio dialogando com meu lado apolíneo do estudo e do método. Entrego meu corpo, alma e vida ao deus Dionísio.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Um gole de café é um gole de café, um pedaço de bolo é um pedaço de bolo. Os dois juntos são uma Comemoração!!!

Faço 32 anos (04/03). Confesso que entrar na casa dos 30 foi um grande susto do qual ainda me recupero dois anos depois. Um pouco por questão de vaidade, e muito mais por assombro de deparar-me com o tempo que anda veloz.

Há pouco: doze anos atrás, eu tinha 20 anos, ouvia e cantava Legião Urbana em um quarto de pensionato, era estudante de jornalismo e visualizava a mulher maravilhosa que eu seria para muito longe;

As Conquistas.

Quando fiz 30 anos prometi a mim mesma que deixaria para trás as minhas infantilidades mais mesquinhas, alguns crimes doces na adolescência e aos 20 anos. Estou me limpando ainda,...

O Leandro, meu namorado e parceiro, fez uma analogia bastante interessante entre a foto acima e estar com 30 anos:

Estar aos 30 é já ter bebido um pouco do café, menos do que a metade. É ainda ter a oportunidade de saborear a bala de doce de leite, não qualquer bala, e sim, a bala. É uma foto com nuances bem coloridas.

Nasci para a maturidade. Birrinhas e choros auto-piedosos são roupas velhas que já não servem mais.


Algo mudou. Larama percebe a metamorfose dentro de si. Já consegue trabalhar com sentimentos como raiva, já não chora toda coitadinha. Antes, sentia-se uma criança em corpo adulto. Hoje, sente-se adulta. Ao tropeçar, xinga, pragueja e depois vai tomar um café; ainda chora, mas já se afoga bem menos.



Eu Quero Comer a Vida!!!!





terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Cães e gatos

Cachorros são clown, cantiga de roda.
Gatos são tragédia grega, tango argentino.
Teatro é gato, cinema é cachorro.
Woody Allen é gato, Charles Chaplin é cachorro. O gato apresenta a graça do conflito e o cachorro o olhar e o riso triste dos desajustados - à margem.
Me acho em ambos os lados.
Mas... (Sempre tem um mas)... Minha relação com os gatos vai longe..., é uma questão de intimidade, de vínculo, da sensação confortável em se olhar no espelho e enxergar o velho rosto conhecido.


quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

No colo de Don Corleone


Filme: O Poderoso Chefão (The Godfather) de Francis Ford Coppola

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Gatos no Cinema

Gatos com motor ron-ron, quando velhos, vomitam pela casa, fazem xixi fora dos pipi-cats e com graça maçarocam o tapete recém-lavado pela sua natureza higiênica. Dá para ficar bravo?

Vez ou outra, de tão fitoterápicos, gatos procuram folhas para acalmar a dor no estômago.

São curiosos e participam das conversas dos donos em seus colos, em cima de mesas, camas, sofás...

Ao ver o dono chegar fatigado em casa e ir deitar no sofá, vão direto ao colo.

Gatos sempre escolhem um da casa como seu preferido.

Gatos possuem um nome jellicle.

Só quem nunca teve um gato como única testemunha para doces crimes, ou quem nunca foi surpreendido, aos prantos, por uma carinha marrom com dois olhos azuis no meio, não entende tal monografia de arte produzida pela natureza que são os gatos.

Em homenagem a Sofia, Nina, Monalisa Helena, Raulzito, Lepapa, Fellini Alberto, Spock Smith, Pamela Pamer, Albertaas e os saudosos Bigurrilho, Dino, Mimi, Sylvia, Nekro, Chatran e tantos outros da minha história pessoal, inauguro neste intrépido blog a sessão Gatos no Cinema.

Gatos são adoráveis e muitos cineastas acham o mesmo.





"O gato é uma lição diária de afeto verdadeiro e fiel. Suas manifestações são íntimas e profundas. Exigem recolhimento, entrega, atenção. Desatentos não agradam os gatos. Bulhosos os irritam. Tudo o que precisa de promoção ou explicação os assusta. Ingratos os desgostam. Falastrões os entediam. O gato não quer explicação, quer afirmação. Vive do verdadeiro e não se ilude com aparências. Ninguém em toda a natureza, aprendeu a bastar-se (até na higiene) a si mesmo como o gato." - Ode ao Gato, Artur da Távola.

Filme: Olhos de Gato (Cat's Eye), Lewis Teague - baseado na obra de Stephen King

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

William Shakespeare salvou minha vida


Larama dos olhos que eram tristes, tinha um grito tão forte e por isso era muda. Estava tão desacreditada de si, que por meses só respirou. Não sabia o que fazer a Larama, Larama nada fazia, ... !?.,;

Sua rotina resumia-se em acordar, nadar, tentar ler, trabalhar, dormir, comer.

Aos 20 anos. Aos exatos 20 anos, nem 19 e nem 21 anos. Aos 20 anos, Larama acreditava que iria dominar o mundo com letras de música que nunca chegaram a receber uma melodia e por um ano foi vocalista de uma banda que durou... nem um mês. Assim são nossas lembranças.

Aos 20 mais alguns anos, 27... 29... 25... 23... achava-se irônica: Larama, que guardava o mundo dentro do coração e que iria dominar o UNIVERSO, o que não é tarefa fácil!, estava totalmente dominada.

Um copo vazio.


Senhores, senhoras, o filme ainda não terminou, apesar da transição.
A paisagem lá fora mudou e Larama vai mudando com ela.
Hoje, vejo Larama em um ringue, face a face com a vida. Uma olhando nos olhos da outra, esperando quem derruba quem primeiro.


- Larama!! A vida é muito mais forte do que você!! Esta mesma vida que para alguns é mais implacável do que a morte!


Silêncio -------------

Olhos de Larama, boca de Larama: - Não faz mal, no meio de uma poeira de estrelas sou um pedregulho teimoso com ares de diamante bruto!!!

Larama é uma Mulher.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Carta ao filho - a variação dos tempos


O texto abaixo não é de minha autoria. É uma carta que a minha tia Thais escreveu para o meu primo que está estudando em Porto Velho (RO). Dias atrás, eu pedi sua permissão para colocar o escrito aqui no blog:

Na vida passamos por vários tempos, tempo de nascer, tempo de descansar, tempo de morrer, tempo de conquistar, tempo de despedir etc.
Quando você foi para Porto Velho, você sabia que estava no tempo de despedir de sua família, amigos e amores; e sua família, seus amigos e seus amores despediram de você para você entrar no tempo de conquistar.
Se você a ama ou amou está na hora do tempo de despedir, para ela encontrar novos tempos.
Você está agindo como um menino mimado e egoísta, cheio de brinquedos novos e velhos; até que chega outro menino e pega um brinquedo seu, e você não quer dar, não que o brinquedo seja o seu preferido, ou o seu brinquedo mais caro, ou mais especial, mas porque na casa do menino... Sim, ele pode ser o mais especial, o mais querido, o preferido, mas você quer que o brinquedo fique guardado em um canto, no tempo de espera, porque talvez algum dia queira brincar por 2 ou 3 minutos e o brinquedo vai estar lá.
Na vida o que mais fazemos é o tempo de despedir, a toda hora nos despedimos de nossa juventude, de nossa saúde, de um minuto que passamos com alguém; mais tarde temos que aprender a despedir de nossos pais, de nossos filhos, de nossos amores e por fim de nós mesmos.
Nunca podemos pedir para alguém ficar no tempo de espera, só nós que podemos pedir para nós mesmos esse tempo.
Você tem que aprender a se despedir, porque quando você despede-se de alguém, na verdade está dando para esse alguém a liberdade de escolha, a liberdade de voar, a liberdade de aprender, a liberdade de conquistar. Eu sei que é difícil, mas está na hora de despedir para você também se libertar, tenho certeza que quando conseguir, sentirá mais leve, mais dono de si, mais seguro e pronto para grandes vôos e grandes amores.


Eu te amo muito, muito mesmo, e sei que você está chegando no tempo de grandes despedidas, pois daqui alguns anos estará conquistando o seu grande sonho, e eu te amo por isso, e isso mais tarde você também fará pelos seus filhos.



Thais, sua mãe, que tem a honra e o orgulho de tê-lo como filho.

Pintura de Vincent Willem van Gogh

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

A Lógica dos meus sentimentos

Entre a poesia e a política, escolho a poesia. Posso afirmar-lhes, já que um dia fiz esta escolha seguindo o que a minha percepção sentia.
Interessa-me mais o humano do que os fatos.
Fatos são roupas às vezes trocáveis e às vezes irremediáveis. Não importa, são o externo, a consequência dos sentimentos e instintos humanos.
Adentro na militância quieta e sem alardes do artista.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Julieta envelhecida



Ela, Julieta, profere as palavras aos gritos rasgando-as como papel. Eu quase faço o mesmo, rasgando-as dentro de mim.

Meu grito é surdo.

Meu Romeu zombou de mim confirmando que o amor é cafona. O que me fez ter um déjà vu.
Tanto Romeu quanto Julieta andaram na contra-mão, eu procurei me enquadrar e o que ganhei?
...

Aos 15 anos eu fechava os olhos e visualizava uma bailarina furtacor dançando. Tão linda era ela representando um dos meus sonhos de infância.
Eu, criança tímida de pernas magras.
É pela criança magrela que vejo como filha que me vê como mãe, que ainda me revolto.
Na cidade vejo as pessoas como cópias adulteradas de cães de rua. É o vazio da vida que se escoa em vida. E eu, sinto-me cópia adulterada delas. Uma sombra perdendo a forma.
Amor, Juventude e Morte despedaçadas em papel.
Sinto-me uns 20 anos mais velha do que realmente sou. Como em uma tragédia teatral, estou em algum ponto da trajetória caminhando para frente, por instinto apenas.


Caminho,
caminho,
caminho

para frente


e a paisagem continua sempre a mesma.

Meus sonhos se tornaram um álbum de fotografias em sépia.
O mesmo Sol que observava e alertava os amantes me acalma. Enquanto Julieta sobrevive no imaginário humano, eu vou morrendo como Julieta envelhecida no meu quarto, na sala, na cozinha, no supermercado onde já nem sirvo como mercadoria.




Texto escrito em julho de 2008. Pintura de Gustav Klimt

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Demasiado humano

Sentir, desejar, alegrar-se...

Medo.

Depois de um dia bem sucedido de cumprimento de tarefas veio a insônia. O corpo lembrando ao intelecto a qualidade humana. Antes que mecanize o ser.

- Antes da mente és também um corpo.

É bem verdade que o corpo se fez largar no prazer da companhia amadO e lá pelas 22h30 tomou uma xícara de café, é bem verdade também, que barulho mal educado atrapalhou o sono.

E o corpo na intolerante insônia lembrou-se da própria humanidade.

Que o coração da menina de 17 anos lembre ao intelecto de 30 o risco da mulher de 60 urrar perdida: - Mas em que gaveta tranquei meus sonhos?

... A menina de 17 anos chega correndo ao socorro: Oi!!! Olha aqui!! Não sei onde está a chave. Mas, abri a janela!!!






foto e texto: Cilla Amaral

domingo, 18 de janeiro de 2009

sábado, 17 de janeiro de 2009

Universal

Quando eu descobri que a minha dor era a do outro também, me deu raiva. Assim, descobri que eu não era única, nem especial, mas apenas humana.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

As mulheres rebeldes no quadro do artista




Tenho em mim um lado A e um lado B.
O lado A aparentemente me serve como ponto de equilíbrio, tenta ser disciplinado, calmo e gentil. Já o lado B ... Ah, o lado B! Este é um felino vagabundo dos que miam nos telhados familiares, questiona a vida, possui uma febre interna e pensamentos não publicáveis.
Meu lado B grita!

Meu lado A covarde e com complexo de inferioridade me anestesia.

Sou bicho selvagem. Meu lado A me coloca como um animal de estimação, uma gata de petshop. Ah... Me dá um ódio às vezes...
Possuo uma febre interna, olhos inchados e doloridos, dor nos joelhos. Meu lado B é displicente e dispersivo e por mais que o lado A. Huuummmm... Sempre o lado A! Por mais que o lado A queira comandar a situação, meu lado B é quem comanda nas entrelinhas, sobe em cima da cabeça do lado A.

Meu lado A é auto-suficiente emocionalmente, calado. Meu lado B, ao contrário das aparências pode me tornar a amiga mais leal.
Meu lado A azul europeu modula minha máscara.
Do lado A me interessa um filho. Agradeço ao lado A, este que não me pertence, por me dar uma linha. Embora minha febre interna impeça que eu o agradeça realmente.




terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Dona Gata

Dona Gata, dona gatinha
Este é o apelido de uma personagem, na verdade minha persona com a qual eu brinco diariamente. Lezito, Pami e Albertaas sabem do que estou falando.