
Enquanto pedalava, o coração batia desgovernado, não pelo exercício físico, mas muito mais pela emoção de estar pedalando com o pai - momentos raros - rumo à casa de sua tia. O propósito da viagem era ver uma ninhada de gatinhos e quem sabe escolher um deles.
O primeiro encontro
Uma gata, Dona Mimi, deitada em forma de U, cinco ou seis gatinhos, às vezes mamando, outras vezes passando, rolando, um em cima do outro, na disputa pelo melhor leitinho. O áudio é de um ronronar. Eram... dois gatinhos pretos, dois rajados e dois siamesinhos: um cabeçudinho e forte e o outro, magrinho e fraquinho.
Quando ela, garota de 16 anos, aproximou os dedos encantados sentido aos gatinhos, o siamês cabeçudinho abraçou o irmão siamês fraquinho e bufou para ela protegendo o irmão.
A garota tímida, ameaçada por aquele bebê gato, escolheu justamente o próprio - o cabeçudinho - para levar consigo. Houve o tempo de espera: uma semana. Durante este tempo, o siamês fraquinho faleceu. E, em um sábado de 1993, o gato cabeçudinho chegava à casa da garota, sendo batizado Raul Seixas Amaral, vulgo Raulzito, também conhecido como cabeça de cebola.
Um quadro na memória - Na passagem do ano de 1993 para 1994
Feliz, ela arrumava as malas para ir passar o Ano Novo na casa dos avós em Taubaté. À noite, tudo estava pronto e era só levar as malas para o carro, mas alguém mais "esperto", antes que pudessem colocar as malas, bateu feio no carro de seu pai: por sorte não feriu ninguém, mas impediu que viajassem.
Ela ficou muito triste, de uma tristeza maior e mais profunda do que o fato da batida do carro poderia gerar. Era como se um de seus sentidos, que não a visão, não a audição, não o olfato, nem tampouco o tato, pudessem lhe trazer certa informação. Aquele seria o último Ano Novo, ano bom, ano de saúde de seu avô: aquele homem bacana que chorou quando ela nasceu, quando ela, nenê humano, recém-nascida, agarrou o seu dedo dizendo na língua dos bebês: - Oi, e aí cara!! Maneiro!!!
Em 1995 faleceu seu avô materno.
...
Pensando estar sozinha, chorando em seu quarto, ela olha para a porta e dois olhos azuis, vesgos e interrogativos a encaravam. O diálogo olho-a-olho deve ter durado uns 20 minutos, finalizando-se no colo da garota. Foi a primeira conversa longa, de amigos, que teve com Raulzito.
Hoje, 2009. Raulzito tem a mesma idade da garota tímida, 16 anos. Ao contrário de um jovem humano de 16 anos, os olhos azuis do pequeno cabeçudo estão ainda vivos de alma, porém envelhecidos de físico. A mãe da garota jura que o Sr. Cabeça de Cebola anda um pouco caduco e todos tomam muito cuidado ao pegá-lo para não machucar seus vividos ossos. Dos cinco irmãos gatos de Larama, Raulzito, o mais velho, é de longe o mais traquinas.
Em 2007 faleceu de morte natural Dona Mimi, mãe do pequeno Raul. Ao lembrar da respeitável senhora felina, a garota que hoje é uma mulher agradece àquela barriguinha peluda que criou seu amigo.
Em 1994, Raulzito, filho único, necessitava de um irmãozinho. É quando chega Lepapa...

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