terça-feira, 28 de julho de 2009

Conversas da Távola, parte 2



“Concordo com Meyerhold”, diz o inglês Edward Gordon Craig, com a inscrição Diretor e cenógrafo (1872-1967) na camisa preta que veste. “A emoção destrói o ator, a identificação gera confusão e erro. Proponho o ator como uma super-marionete, que através do movimento domina a emoção, tornando-se mais visual e menos sonoro, pois acredito ser a voz muito enfadonha.” E, olhando para o homem primitivo, diz-lhe sorrindo: “Uma marionete, símbolo da divindade.”

“Acho que o ator não deve se apoiar no transe hipnótico do naturalismo psicológico; o ator deve direcionar-se pelo que é cerebral e litúrgico. O público não deve ser envolvido emocionalmente”, argumenta o alemão Bertolt Brecht, com a inscrição Dramaturgo, poeta e encenador (1898-1956), também vestido de preto.

“Sim, com certeza! A plateia não deve ser envolvida emocionalmente!”, exclamam, com certa ansiedade, os Srs. Meyerhold e Gordon Craig.

“Continuando: proponho uma representação mais consciente do ator através do gestus, levando o público a entender a situação cênica de modo mais racional.”

“Como?”, perguntam os três senhores, Stanislavski, Meyerhold e Gordon Craig.

“Na encenação teatral, deverá ocorrer uma demonstração dos acontecimentos através do ator narrando e relatando os fatos, entre uma linguagem falada e cantada. Já a leitura cênica do personagem e da história deverá ser realizada com espanto e crítica pelo ator, antes de memorizar a história, podendo avaliar o desenrolar dos fatos.”

“Posso continuar?”, pergunta Brecht. Todos à mesa, os doze cavalheiros mais o homem primitivo, respondem que sim.

“O ator deve desenvolver uma interpretação expositiva, lúcida e didática, relatando ideias e opções de comportamento mais do que sentimentos. Um efeito de distanciamento, a partir do ator que deverá estudar seu personagem de forma mais científica, gerando no público um estranhamento para que o acompanhe, sem envolvimento emocional, mas de forma crítica: social e artística. O distanciamento no público só poderá ocorrer através do distanciamento responsável do ator por meio da observação de si próprio e reprodução de atitudes cênicas recorrendo a símbolos. Um ator com função de agente de transformação social e histórica.”