segunda-feira, 29 de junho de 2009

Conversas da Távola, parte 1


Sentados ao redor de uma távola redonda, dez respeitáveis homens de teatro conversam sobre o ofício ao qual dedicaram suas vidas. Além deles, ali está também o homem primitivo. A távola redonda encontra-se em um espaço dito cênico, em uma cidade localizada no espaço e no tempo da cronologia histórica, onde vivos e mortos têm a oportunidade de encontrar-se para um “bate-papo”.
A mesa não possui cabeceira. Portanto, os dez homens de teatro, mais o homem primitivo, conversam em uma perspectiva em que todos têm visão para todos.


O primeiro homem a falar, um russo chamado Constantin Stanislavski, tem a inscrição Ator, encenador e teórico teatral (1863-1938) estampada em branco na camisa preta que veste.


“A criatividade do ator deve ser estimulada por uma série de motivações técnicas que despertem conscientemente o inconsciente para uma criação superorgânica, superconsciente. Deve-se estimular o trabalho do ator sobre si mesmo e o trabalho do ator sobre o personagem.”


Um segundo homem, também russo, chamado Vsévolod Meyerhold, com a inscrição Ator, encenador e teórico teatral (1874-1942) estampada em uma camisa preta, responde-lhe: “Stan, ator é movimento. Rejeito psicologismo e realismo sociológico.”


“Mas, Meyerhold! O ator deve reconstruir minuciosamente a psicologia do personagem. O ator deverá, diariamente, exercitar-se na prática da observação de si próprio e do outro, como seres humanos que são, para como personagem colocar-se em situação d...”


O homem primitivo, nu e sem qualquer inscrição, pergunta pensativo: “Ator religioso?”


“...colocar-se em situação de a fim de alcançar uma realidade cênica mesmo que tenha de recorrer ao externo e aos meios físicos para alcançar a verdade interior do personagem. A fé cênica”, continua o Sr. Stanislavski, exaltado em sua observação.


“Ato religioso!”, pensa o homem primitivo em voz alta.


“Stan, Stan, Stan. A ação do ator deve ser mais teatral e menos humanizada. O movimento apresentado através da expressão corporal e da mímica é mais revelador do que palavras. O ator é como uma marionete que dança, canta, faz acrobacias e (nunca) esquece que está representando frente ao público.”


“Essência?”, pergunta o homem primitivo. Meyerhold lhe sorri, enquanto olha para Stanislavski com ar vitorioso.


“Destruir a quarta parede que há entre o ator e o público?”, pergunta Stanislavski. “E a concentração do ator em cena? Uma vez vi o ator italiano Tommaso Salvini interpretando ‘Otelo’, de William Shakespeare, o que marcou-me profundamente. Ouvi dele, certa vez, que o ator deve trabalhar uma total desconcentração muscular nos ensaios e antes de entrar em cena; e uma concentração da atenção quando estiver no palco e nos ensaios. Desconcentração muscular e concentração mental.”

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