quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Julieta envelhecida



Ela, Julieta, profere as palavras aos gritos rasgando-as como papel. Eu quase faço o mesmo, rasgando-as dentro de mim.

Meu grito é surdo.

Meu Romeu zombou de mim confirmando que o amor é cafona. O que me fez ter um déjà vu.
Tanto Romeu quanto Julieta andaram na contra-mão, eu procurei me enquadrar e o que ganhei?
...

Aos 15 anos eu fechava os olhos e visualizava uma bailarina furtacor dançando. Tão linda era ela representando um dos meus sonhos de infância.
Eu, criança tímida de pernas magras.
É pela criança magrela que vejo como filha que me vê como mãe, que ainda me revolto.
Na cidade vejo as pessoas como cópias adulteradas de cães de rua. É o vazio da vida que se escoa em vida. E eu, sinto-me cópia adulterada delas. Uma sombra perdendo a forma.
Amor, Juventude e Morte despedaçadas em papel.
Sinto-me uns 20 anos mais velha do que realmente sou. Como em uma tragédia teatral, estou em algum ponto da trajetória caminhando para frente, por instinto apenas.


Caminho,
caminho,
caminho

para frente


e a paisagem continua sempre a mesma.

Meus sonhos se tornaram um álbum de fotografias em sépia.
O mesmo Sol que observava e alertava os amantes me acalma. Enquanto Julieta sobrevive no imaginário humano, eu vou morrendo como Julieta envelhecida no meu quarto, na sala, na cozinha, no supermercado onde já nem sirvo como mercadoria.




Texto escrito em julho de 2008. Pintura de Gustav Klimt

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